O bullying escolar


 O bullying escolar





A educadora e autora do programa
antibullying 'Educar para a Paz', Cléo Fante, responde às principais
dúvidas sobre o bullying escolar para o portal NET Educação. Muito interessante a entrevista. Confiram!






Seu filho inventa inúmeras
desculpas para não frequentar a escola, conta os dias para que as aulas
terminem e apresenta baixo rendimento escolar. A atitude aparentemente
ligada tão somente à displicência pode ocultar uma realidade grave e
cada vez mais comum nas instituições de ensino: o bullying escolar.

O
termo bullying (de origem inglesa) é utilizado para denominar agressões
físicas ou psicológicas na relação entre pares, motivadas por um desejo
consciente e deliberado de uma das partes de expor o semelhante a
situações de tensão e maus tratos.

A abordagem do problema só não
é mais imediata e eficaz por falta de conhecimento dos responsáveis.
Perguntas como: “Como diferenciar o bullying de uma brincadeira de mau
gosto?”, “Qual o papel da família, nesse caso?”, “E da escola?”,
certamente já foram feitas por famílias, educadores e comunidade
escolar.

Para responder a essas e outras questões sobre o
bullying escolar, o NET Educação convidou a autora e educadora Cléo
Fante para um bate papo. Confira a seguir.

NET Educação -
O que é bullying?
Bullying é uma forma de violência que
ocorre na relação entre pares. Palavra de origem inglesa, sem tradução
em nosso idioma, é adotada em muitos países para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob
tensão.

NET Educação – O bullying é sempre associado ao
ambiente escolar?
A maior incidência de bullying está entre
os estudantes no ambiente escolar. No entanto, tais práticas são
encontradas em outros ambientes, como nos asilos de idosos, nas prisões,
nos condomínios, nas empresas.

NET Educação – Como
reconhecer o bullying?

Para que uma ação seja caracterizada
como bullying é necessário que haja repetição das agressões contra o
mesmo alvo, a assimetria de poder entre as partes, a ausência de motivos
que justifiquem os ataques e os danos causados, que podem ser
materiais, físicos, morais, psicológicos etc.

NET
Educação – Como diferenciar o bullying de uma atitude decorrente de mau
comportamento, por exemplo?

No bullying as ações são
repetidas contra o mesmo alvo e podem durar dias, semanas, meses e até
mesmo anos. As ações são intencionais e tendem a se agravar ao longo do
tempo, diferentemente de uma ação pontual ou inconsequente.

NET
Educação – O bullying se caracteriza apenas entre alunos ou abrange os
demais relacionamentos em uma comunidade escolar, como professores,
coordenadores e demais responsáveis?

No Brasil, por
convenção, denominamos bullying os atos agressivos, intencionais e
repetitivos entre estudantes. No mundo dos adultos, seja na escola ou
fora dela, costuma-se empregar o termo assédio moral ou mobbing. Fazemos
essa distinção para melhor compreender o fenômeno e diferenciá-lo das
demais formas de violência que ocorrem na escola.

NET
Educação – O que o bullying acarreta ao ambiente escolar?
Um
ambiente de medo e insegurança, tanto para os que estudam como para os
que trabalham nas escolas. O bullying é um grande entrave no processo
educacional, podendo resultar em déficit de aprendizagem, desmotivação
para os estudos, absentismo, evasão e reprovação escolar.

NET
Educação – Há uma linha comportamental comum a quem pratica o bullying?
E as vítimas, apresentam alguma característica comum?
Geralmente,
o autor de bullying apresenta insegurança e pouca confiança em si
mesmo. Adota comportamentos negativos respaldados no apoio do grupo.
Busca aceitação e popularidade na escola por meio da dominação e abusos.
Infelizmente, colabora para que outros, com medo de serem submetidos ao
seu domínio, façam parte de seu grupo para abusar ou buscar ‘presas’
para atacar. Podem apresentar comportamento irritadiço, envolvimento em
discussão e/ou brigas, comportamento indisciplinado, manipulador, cruel.
As vítimas, geralmente, apresentam passividade, submissão, dificuldade
de se impor, de se defender, de denunciar, de motivar colegas que
auxiliem. Normalmente, são aqueles que não oferecem resistência, os mais
frágeis e vulneráveis, os que possuem baixa autoestima.

NET
Educação – Quais são as consequências possíveis para os autores do
bullying?

O comportamento intimidador do autor poderá se
solidificar com o tempo, comprometendo as relações afetivas e sociais,
além da aprendizagem de valores humanos, como a solidariedade, a
empatia, a compaixão, o respeito a si mesmo e ao outro, o que afetará as
diversas áreas de sua vida.  Muitos tendem à depressão, às ideias
suicidas, ao envolvimento em atos delinquentesa, ao uso de drogas e à
criminalidade. Muitos, quando adultos, cometem violência doméstica e
assédio moral no trabalho.

NET Educação – E para as
vítimas?

Tudo vai depender da gravidade da exposição aos
maus tratos. Pode ocorrer que, no futuro, esses indivíduos sejam
revitimizados ou reproduzam a vitimização em outros locais, como no
trabalho ou na constituição familiar. Podem ainda apresentar transtornos
psicológicos, como alimentares, de sono, ansiedade, depressão,
insegurança, fobias, agressividade, baixa auto-estima, ou ainda
dificuldade de relacionamento e idéias de vingança.

NET
Educação – Qual deve ser a atitude dos responsáveis pela comunidade
escolar quando reconhecem o bullying, tanto para com o autor, como para a
vítima?
O ideal é que a comunidade escolar conheça o
fenômeno e saiba diferenciá-lo das brincadeiras habituais e dos atos de
indisciplina. Quanto aos responsáveis pela escola, estes devem
desenvolver estratégias preventivas antes que o bullying se instale e
inviabilize o processo socioeducacional. Quando identificado, é
necessário que a atuação seja firme, exigindo que o autor interrompa os
ataques, sempre em conformidade com o Regimento Interno escolar.
Dependendo da gravidade, tanto vítima quanto autor necessitam de atenção
especializada. Portanto, os encaminhamentos podem ocorrer em diversas
esferas - psicologia, pediatria, Conselho Tutelar, Delegacia de Polícia,
Ministério Público -, sempre em parceria com a família.

NET
Educação – De que maneira a família deve atuar quando o seu filho é o
autor ou a vítima do bullying?

A família deve,
primeiramente, oferecer o diálogo e a compreensão para que em ambos os
casos possam encontrar soluções conjuntas. Deve-se também recorrer à
escola para estabelecer parcerias e nunca estimular o revide ou ignorar o
comportamento dominador.

NET Educação – As comunidades
escolares estão preparadas para lidar com o bullying? Há dicas nesse
sentido?
Algumas escolas já desenvolvem ações ou programas
antibullying. No entanto, a maioria ainda não está preparada, pois
desconhece ou ignora o problema. O ideal é que as escolas ofereçam aos
profissionais, pais e alunos espaços para a discussão e busca de
soluções que possam prevenir tal comportamento. Sugerimos que a
prevenção comece pelo conhecimento e este deve ocorrer por meio de
estudos sobre o problema, por meio de capacitação profissional, formação
de equipe multiprofissional para atendimento aos casos, espaços de
escuta dos alunos envolvidos, serviço de denúncia e atendimento
individualizado, entre outras ações.

NET Educação - Fale
sobre o programa antibullying Educar para a Paz.
O programa
antibullying Educar para a Paz foi por mim desenvolvido e implantado,
pioneiramente, na Escola Municipal Luiz Jacob, em São José do Rio Preto,
entre os anos de 2002 a 2004. É composto por um conjunto de estratégias
psicopedagógicas, direcionadas aos professores, alunos e pais, além de
envolver a comunidade onde a escola está inserida. A implantação do
programa na referida escola demonstrou ser eficaz na redução do
comportamento bullying. O que antes era uma realidade de 66% de
envolvidos no fenômeno, dois anos mais tarde transformou-se num resíduo
de apenas 4%.





O programa Educar para a Paz tem
conseguido auxiliar as escolas na redução do bullying escolar, bem como
nas diversas formas de violência. Nossa intenção é disseminar a cultura
de paz, por meio de ações que incentivem a solidariedade, a tolerância e
o respeito às diferenças.  Incentivamos a criação de grupos de alunos e
pais solidários nas escolas. O objetivo é que a atuação do grupo seja
intensificada nos horários de entrada, recreio e saída, inibindo a ação
dos agressores e incluindo os que têm dificuldades relacionais, além dos
alunos novos.


Atualmente, o programa é referência em
inúmeras escolas públicas e privadas do país e exterior. Tendo nosso
acompanhamento direto, podemos citar as escolas de ensino fundamental
II, da rede pública municipal de ensino de São José do Rio Preto (2008),
as escolas de ensino fundamental I e II, da rede pública municipal de
ensino de Cedral (2009-2010) e todas as escolas filiadas ao Sindicato
dos estabelecimentos particulares de ensino do Distrito Federal,
Sinepe/DF (2005-2009).
No livro Fenômeno Bullying: como prevenir a
violência nas escolas e educar para a paz, publicado pela Verus editora,
em 2005, trazemos o programa antibullying na íntegra (p.91-153). As
escolas podem se apropriar do programa e adaptá-lo de acordo com a sua
realidade. 





Sugestões Bibliográficas:
Fante, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e
educar para a paz. Verus Editora. Campinas. 2005
• Fante, Cleo &
Pedra, José Augusto. Bullying Escolar: perguntas e respostas. Artmed.
Porto Alegre. 2008.






Sobre a Autora:



CLÉO FANTE
Graduada em História e
Pedagogia, pós graduada em didática do ensino superior e doutoranda em
Ciências da Comunicação, é autora do programa antibullying Educar para a
Paz
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